Celebram-se em 2014 o segundo centenário do nascimento do arquiteto francês Eugène Emmanuel Viollet-le-Duc, o centenário da morte do arquiteto e literato italiano Camillo Boito e os 50 anos da Carta de Veneza. Assinalando estas efemérides, propõe-se uma reflexão sobre as circunstâncias da teoria e da prática do restauro arquitetónico em países cujos percursos históricos estiveram ligados no passado e que, no caso de Espanha e de Portugal, registaram nos últimos dois séculos singulares correspondências. A desamortização dos bens das ordens religiosas que depois se estende ao clero secular; a incipiente resposta por parte do Estado na criação de um processo de salvaguarda e valorização de um rico património artístico; a venda, por vezes, abusiva deste património para o estrangeiro, onde veio a engrossar grandes coleções; a evocação do passado áulico dos Descobrimentos, ao serviço de um discurso de propaganda e poder de regimes autoritários, são algumas das singularidades comuns, com efeitos na herança artística dos dois países.
Se a prática do restauro estilístico se impôs, por terras ibéricas, logo no século XIX, admirando-se as propostas de Viollet-le-Duc, nem sempre existiu uma compreensão total nem um domínio do pensamento deste arquiteto. Já no século XX, quando se torna objeto de rejeição, a unidade de estilo surge tentadora e dominante na realidade ibérica resultante de condicionalismos mentais diferentes daqueles que a viram nascer. Contudo, vão emergindo perspectivas críticas, e é significativo que do comité redatorial da Carta, aprovada no congresso dos arquitetos e técnicos de restauro realizado na cidade de Veneza em 1964, fizessem parte o espanhol José Bassegoda-Nonell (1930-2012) e o português Luís Benavente (1902-1993).
Atendendo à homogeneidade cultural pretende-se também, no âmbito do congresso, discutir as influências no Brasil e nos países da Hispano-américa, a nível teórico e prático do restauro, das tendências geradas na Europa.